O lançamento da nova geração de vídeo games levanta questões sobre os rumos que a indústria pode tomar se apoiando na potência e desenvolvimento tecnológico cada vez maior dos aparelhos. Especialistas acreditam que os jogos de Playstation 4 e Xbox One irão se aproximar do cinema graças às capacidades gráficas aprimoradas das plataformas.
Essa convicção tem base na relação colaborativa entre as duas artes, que já apresenta resultados satisfatórios ao simular situações realistas com a ajuda de atores reais. A “qualidade de filme” acrescenta um sentimento maior de imersão na narrativa e contribui na sensação de pertencimento do jogador dentro do universo do jogo.
Embora a cada nova geração os jogos fiquem mais voltados ao realismo, vindo das primeiras tentativas com os personagens digitalizados da franquia Mortal Kombat, passando pelos personagens poligonais e menos cartunescos de séries como Final Fantasy e Tekken, a interação citada anteriormente começou realmente em 2010, com o jogo Heavy Rain, um drama policial onde os personagens apresentam extrema semelhança com atores humanos, tanto na aparência quanto em expressões altamente detalhadas, além de movimentos fiéis e não mecânicos.
Usando um processo chamado Mo-Cap (abreviação de Motion Capture, ou Captura de Movimentos), a desenvolvedora francesa Quantic Dream capturou, com auxílio de vídeo, os movimentos de atores reais através de dispositivos de marcação colocados em pontos estratégicos de seus corpos.
Mo-cap vem sendo usado na produção de jogos digitais desde 1995, mas nos últimos anos sua qualidade vem melhorando drasticamente, culminando nas tentativas de David Cage, fundador da Quantic Dream, de dar um passo adiante com seu título mais recente.
Lançado no último 10 de agosto, Beyond: Two Souls faz uma ponte entre a indústria dos jogos e Hollywood, reunindo os premiados atores Ellen Page e Willem Dafoe em seu elenco usando a técnica Performance Capture, que difere do mo-cap por capturar movimentos, diálogos e outros sons e gravá-los ao mesmo tempo.
A ideia inicial era conseguir capturar movimentos mais complexos, como os de olhos, que sempre foram uma grande dificuldade para a produção, mas o resultado foi muito além, criando um retrato mais próximo da realidade, permitindo uma interação mais suave e subjetiva entre personagens, jogo e mundo real.
Esse avanço rumo a um universo mais realista ou cinematográfico criou também um fluxo de troca maior nos mercados de jogos e filmes.
Antes somente talentos da área de efeitos visuais eram “importados”, mas agora vários outros profissionais, como os cenógrafos e figurinistas, vem integrando as equipes de desenvolvimento de jogos a fim de criar ambientes com mais propriedade.
Na E3 desse ano, muitas das demonstrações de jogos dos consoles da Sony e da Microsoft confundiram a plateia com sua riqueza de detalhes, levando as pessoas a questionar se o que estavam assistindo era uma transmissão ao vivo ou se era gerada por computador.
E essas apresentações foram somente a ponta do iceberg no que tange ao poder dos aparelhos da nova geração e o que realmente pode ser feito com eles.